Pretende-se que a intervenção a realizar se reja pelo ” ‘princípio da mínima intervenção e do máximo desempenho’, conduzindo deste modo à minimização dos respetivos custos económicos e ambientais e à conservação do património construído, mas garantindo, ao mesmo tempo, a segurança estrutural o conforto térmico e acústico da construção reabilitada…”
valorização do pré-existente | escrever com palavras já escritas
O edifício situado no cruzamento da Avenida 5 de Outubro com a Avenida Elias Garcia foi inicialmente projetado para hotel e posteriormente adaptado a escritórios, albergando as instalações do Ministério da Educação. O presente concurso prevê a alteração da sua função para residência de estudantes.
A pré-existência consiste num edifício de traçado modernista tardio, hoje, uma forte referência da racionalidade pragmática da sua época. Assim, tri-parte a sua volumetria em resposta direta à sua envolvente, estrutura-se numa malha de regularidade absoluta, e encerra-se com uma fachada cortina, encimada por uma pérgula que demarca a presença de uma varanda de cobertura.
Esta leitura da pré-existência dita as regras da nova intervenção. Em uníssono com a era modernista, as características desta pré-existência coincidem com as transversais à construção da sua época. Desde a insustentabilidade ambiental e energética da extensa fachada-cortina aos constrangimentos da articulação de um novo programa com uma rígida e pesada métrica estrutural.
Num gesto subtil, a ideia passa pela recuperação dos valores modernos elevados, apenas tocando a contemporaneidade na resolução das fragilidades inerentes ao desenho original. Para albergar o programa pedido de cerca de 300 quartos (600 camas) da residência, ocupam-se na totalidade os 13 pisos existentes bem como o piso intermédio da galeria. São utilizadas modulações de quarto individual ou quarto duplo, com casa de banho, e apartamentos independentes, T0's, e criadas copas de preparação de refeições em cada piso. No piso da galeria é ainda previsto um espaço para professores e investigadores convidados e áreas de repouso.
As áreas sociais e zonas de serviço comuns de lavandaria, ginásio, sala de estar, sala de estudo, sala multiusos, gabinetes de direção e receção, bar/cafetaria e restaurante/cantina são implementadas no rés-do-chão e piso -1 ocupando os antigos espaços de arquivo. Mantém-se a área de garagem e zonas técnicas no piso -2. O acesso de serviço, zona de cargas e descargas e manutenção do edifício são mantidos.
estrutura | programa | espacialidade
O edifício é composto por modulo estrutural de 6,20m x 6,00. Nos pisos dos quartos este módulo foi subdividido em dois ou três compartimentos consoante a tipologia proposta seguindo a métrica da estrutura. A proposta arquitetónica tira partido das vigas e pórticos existentes dando-lhes sentido na divisão espacial e funcional dos quartos.
Mantêm-se todos os elementos estruturais tendo sido apenas retirados duas caixas de elevadores. Esta alteração permitiu otimizar a distribuição programática dos pisos superiores e áreas de circulação. Os dois núcleos de caixas de escadas existentes são enclausurados e criadas antecâmaras para o seu acesso em resposta às exigências regulamentares. São associadas a estes elementos verticais três grandes ductos técnicos para correta integração das infraestruturas.
A nova proposta funcional adapta-se à estrutura existente apenas demolindo paredes de compartimentação. Mantém-se maioritariamente a compartimentação coincidente com a estrutura.
Na fachada, a denunciar o novo uso, propõe-se pequenas estruturas leves balançadas nos pisos superiores do topo norte do edifício.
contenção de custos | eficácia e facilidade construtiva
É objectivo do projecto cumprir o apertado orçamento previsto mantendo simultaneamente um bom nível de qualidade construtiva. A ponderação e conciliação
destes dois pressupostos obriga desde o início a opções concretas, a uma ginástica orçamental precisa e uma estrita coordenação entre as especialidades.
Fazer mais – e melhor - com menos é o lema desta proposta contrapondo à contenção de recursos a riqueza na espacialidade e qualidade na apropriação dos espaços pelos usufrutuários.
Com espaços de pequenas dimensões criam-se zonas flexíveis plurifuncionais. Criam-se novos espaços, esperamos que mais surpreendentes, num vocabulário arquitectónico contemporâneo.
corredor | ruas interiores
Propomos transformar o espaço fechado e escuro do corredor num espaço luminoso e aberto.
Todos os corredores passam a ter luz natural e vistas sobre a cidade.
Foi dada especial importância ao desenho dos corredores de acesso aos quartos, aqui entendidos como ruas interiores (salas de estar comunitárias onde existem zonas de estadia). Desta forma, estimulam-se as relações de vizinhança e os laços sociais.
Propomos em cada piso zonas de copas e cozinhas partilhadas, equipadas com fogão frigoríficos e outros acessórios (micro-ondas torradeiras) com zonas adjacentes de refeição situadas em zonas iluminadas sempre com varandas e/ou aberturas para o exterior.
Esta multiplicidade de funções é controlada através da gradação do nível de privacidade dos espaços (desde o mais público até ao mais privado) e da qualificação dos espaços de transição que os interligam.
residência de estudantes – novas tendências
quartos – intimidade | versatilidade
As tipologias dos quartos procuram responder às necessidades básicas do estudante de ensino superior, oferecendo um interior prático e cómodo. Cápsulas de privacidade onde a individualidade se expressa. A tipologia dos quartos não renuncia aos standards básicos de conforto e habitabilidade simbolizando um estilo de vida que relativiza as necessidades privilegiando os ‘needs’ sobre os ‘wants’.
Caracterizados pela flexibilidade de usos e aproveitamento dos espaços projeta-se mobiliário que se pode ajustar/adaptar e diferenciar usos.
Propõe-se criação de uma hierarquia em três zonas distintas com várias possibilidades de usos e vivências: o tratamento do corpo, o silêncio do sono, a concentração do estudo/trabalho.
Viver trabalhar e dormir vestir-se dentro de um espaço compacto, considerando a versatilidade entre as funções noturnas e diurnas.
Investe-se na criatividade no desenho do mobiliário para permitir espaços organizados e recolhidos que permitem diferentes apropriações.
Cada tipologia adapta-se à estrutura existente de cerca 6mx6m.
Concurso2019
LocalizaçãoLisboa, Portugal
ArquitecturaCristina Guedes e Francisco Vieira de Campos
Equipa de ProjectoCarla Lourenço, Rodrigo Alves, Andrea Fornasiero, Gonçalo Castro, Inês Marinho Batista, Inês Mesquita, Ricardo Medina
EstruturasHipólito Sousa - SOPSEC
Instalações HidráulicasDiogo Leite - SOPSEC
Instalações EléctricasRaul Serafim - AFAconsult
Segurança Contra IncêndioMaria da Luz Santiago - AFAconsult
Condicionamento acústicoRui Ribeiro - Amplitude Acoustics
Instalações Mecânicas e TérmicaRaul Bessa - GET